Daniel Haaksman @ Rec Beat 2020 - José Britto (@_josebritto)

O DJ e produtor alemão DANIEL HAAKSMAN é mesmo uma das mais importantes figuras no que diz respeito à difusão da música eletrônica grave e tropical produzida nos últimos vinte anos no Brasil, passando pelo funk carioca de Deize Tigrona até os batidões amazônicos do tecnobrega. Há cerca de 20 anos, ele vem levando e trazendo beats, DJs, produtores, músicas, referências e influências que cruzam o atlântico pra encher de graves as pistas de dança da Europa.

Com passagem pelo Brasil neste inicio de ano, para uma estadia em Salvador a convite do Instituto Goethe, com a finalidade de desenvolver projetos culturais potencializando a cultura brasileira, o DJ foi uma das atrações principais do festival Recbeat, o polo mais plural e diverso do Carnaval do Recife, recheado de uma programação sempre de vanguarda, apontando tendências e trazendo a seu público, de mais de 20 mil pessoas por noite, o que há de novo na cena musical do Brasil, da América Latina e do mundo.

Conversamos com ele sobre o seu mais recente mixtape , exclusivamente dedicado ao Bregafunk e suas impressões deste estilo musical pernambucano que foi o grande protagonista do carnaval brasileiro de 2020. Na conversa, Daniel faz vários links interessantes sobre artistas, cenas e estilos musicais que permeiam em sua visão esta variante da Tropical Bass Music autenticamente recifense, ou, como ele mesmo diz, “O Bregafunk é o Reggaeton Brasileiro”.

bregafunk

1) Daniel, você foi um dos grandes responsáveis por levar para o mundo o funk carioca e o tecnobrega pela primeira vez. Quando você ouviu pela primeira vez brega e funk juntos ?

Daniel Haaksman / Ouvi o Bregafunk há alguns anos, quando estava de férias em Belém em 2016, comprei um par de Pen Drives num mercado de rua onde havia alguns remixes Brega de canções Funk. Eu não sabia que este híbrido se chamava Brega Funk, mas gostei muito da mistura de Dembow beats do Reggaeton, os doces e estranhos sons de sintetizador de Brega e os raps do Funk.

2) Em seu trabalho como DJ deve sempre buscar novos sons e estilos que mostrem uma nova cena. O que vc percebe de interessante no Bregafunk ?

DH / O ritmo é muito acessível, o som une-se ao Reggaeton, além disso, o tempo é muito mais acessível do que do funk Rio ou São Paulo. Também a qualidade sonora de muitas produções é muito boa, para que você possa tocar as músicas nos sistemas de som de alta qualidade na Europa sem nenhum problema. Com o Funk há dez ou quinze anos atrás, muitas vezes o problema era que muitas produções soavam muito desprezíveis e a qualidade sonora era miserável em comparação com as produções europeias. Em qualquer caso, muita coisa mudou em termos de qualidade sonora na música brasileira nos últimos anos.

3) Você já apresentou muitas coisas novas ao seu público que segue suas festas, lançamentos da Man Recordings, remix e edits. Como você acha que será a resposta do seu público para o Bregafunk?

DH / Curiosamente, já lançamos músicas de baile funk de Edu K em reggaeton remix pela Man Recordings em 2005 e 2006, músicas como “Sex-O-Matic” ft. Deize Tigrona ou “Popozuda Rock n’Roll”, que hoje soa como uma base para o Bregafunk. Para o nosso público, estas conexões não são novidade.

Eu lancei uma compilação na Man Recordings 2012 chamada “Daniel Haaksman Apresenta Tecnobrega”, na qual você pode ouvir algumas faixas que poderiam passar como Bregafunk hoje. Na compilação, estão também algumas faixas de João Brasil, que descobriu o potencial pop de Brega e Funk muito cedo. Mas é claro, que as novas canções Bregafunk são emocionantes e tornarão o Funk acessível a um público ainda maior.

Daniel Haaksman @ Rec Beat 2020 4 crédito- José Britto (@_josebritto

4) O Bregafunk é uma música muito crua, forte e com beats potentes. Você acha que tem potencial para repertórios de Djs de reggaeton, breakbeats e bass music ?

DH / O ritmo Dembow, que é dominante no reggaeton, é atualmente onipresente na música pop do mundo. Eu acho que o Bregafunk é como um “Reggaeton Brasileiro”. Por isso, acredito que há um grande futuro para o Bregafunk. O ritmo é muito cativante, é apenas uma questão de tempo até que o primeiro grande sucesso internacional Bregafunk seja lançado. Também o uso de sintetizadores e melodias, que são uma relíquia do Tecnobrega no Bregafunk, são muito úteis para uma maior distribuição internacional. O fato de os cantores cantarem em português já não é um problema, as portas estão abertas para a música pop não inglesa, como se pode ver atualmente pelos sucessos internacionais de Rosalia, J Balvin o Anitta. “Bum Bum Tam Tam” de MC Fioti por exemplo foi também um grande sucesso na Alemanha, onde realmente ninguém fala ou entende português. Mas a canção era muito cativante e o vídeo apelou a muitos, e isso é o mais importante. Os artistas Bregafunk devem ser capazes de fazer isso.


5) Qual artista ou DJ de bregafunk chamou mais atenção ?

DH / Eu gosto das produções de JS O Mão De Ouro, MK, Dennis DJ. Gosto das canções de MC Loma E As Gêmeas Lacração. Durante minha estadia no Recife, no Festival Rec Beat, fiquei muito animado com o set de DJ bregafunk da Milena Cinismo.